segunda-feira, 9 de abril de 2007

O Ranho de país onde vivo...

Estou eu ainda sitiado em Elvas, e aproveito para ler um jornal (daqueles a sério, de papel). Leio com agrado uma notícia sobre a nova intervenção humorística dos Gato Fedorento, que satirizam, de forma invulgar no humor português, um cartaz do P.N.R. sobre os malefícios da Imigração. Apesar de já ter visto várias críticas e recomposições deste mesmo cartaz, tenho de admitir que esta foi sem dúvida a melhor. Os Gato resolveram afixar a sua recomposição ao lado do cartaz original em Lisboa.
A C.M.L. resolveu ser justa e rápida a resolver o caso (exemplo que Carmona podia tomar e resolver as ilegalidades do seu mandato), alegando que o cartaz tinha sido afixado sem autorização camarária, retirando-o no dia seguinte. Caso resolvido, pensei eu. Os Gato pagam a multa, mas passaram a mensagem.
Hoje, ao ler de novo o jornal, vejo que afinal o caso não ficou de todo resolvido. Os maravilhosos militantes do P.N.R. e outros de Extrema-Direita afixaram ameaças físicas num blog aos elementos do Gato e, mais obtuso ainda, ameaçaram elementos das respectivas famílias. Convenhamos que as ameaças aos membros da graçola já eram maus, agora ameaçar crianças…
No fim-de-semana passado, durante um “grande” jogo de futebol (sim, isto tem mesmo um tom irónico, visto que eu aprecio tanto futebol como ver duas lesmas a praticar o amor), os elementos de uma das claques de apoio (apoio???) resolveram vandalizar o estádio onde o jogo decorreu, chegando mesmo a agredir famílias que assistiam ao jogo calmamente nos seus lugares.
Se eu tiver que tirar uma conclusão destes e de outros eventos que sucedem à catadupa neste país, esta é simples: Que ranho de país é este onde vivo? Quando no dia 25 de Abril um grupo de homens arriscou a sua vida para que eu pudesse ter condições para viver e falar abertamente neste país, nunca lhes deve ter passado pela cabeça que um dia o acto de fazer uma graçola sobre fosse o que fosse pudesse ter este resultado. Porque acredito que nem sequer tivessem tentado tirar o país do ranho em que se encontrava.
Por um ideal político mata-se e ameaça-se nos países onde pessoas rebentam autocarros julgando ter 7 (acho eu) virgens à sua espera no paraíso. Por ideais de outras ordens (sexo, raça, clube ou credo) em países onde ainda se vive em cabanas. Portugal, por muito que todos nós nos queixemos, é um país civilizado e que vive em condições idênticas a qualquer pais europeu. Como queremos então que ele evolua se nos comportamos como berberes?
Para rematar algo que já alonguei demasiado, a seguir ao almoço (comida alentejana…he he he…podem-se roer de inveja) vou para Espanha fazer compras e abastecer o meu automóvel com a gasolina de nuestros hermanos (menos 0.30€ por litro). Se acreditarmos que a imigração é má, então, vou tentar esconder a minha matrícula e falar com uma mola no nariz, para que os espanhóis não me reconheçam como imigrante. Sim, porque eu acredito piamente que eles se chateiem imenso com o facto de eu ir gastar o meu dinheiro nos seus produtos.

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