No dia em que decidi tornar-me professor não sabia ainda bem todas as decisões adicionais que essa ideia inicial me iria obrigar a tomar. Decidi ser justo, atribuir notas por desempenho e não por conveniência ou gosto pessoal. Decidi ensinar da melhor forma possível todos os alunos, indiferentemente de raça, cor, credo, sexo e condição financeira. Decidi tratar os alunos com o nível de responsabilidade que eles merecem e nunca tratar um aluno de forma paternalista. Decidi...
No entanto, nem todos pensamos o mesmo. Outros invertem esta linha de pensamento. Outros pensam que todos são uns coitadinhos porque vêm de situações complicadas. Outros recusam-se a ensinar de forma exigente, porque acreditam que os alunos não vão conseguir.
Cada um na sua, mas custa-me pensar assim. Segundo os meus alunos sou exigente, chato, metódico e neurótico. Mas, também segundo os meus alunos, eu preocupo-me, explico a mesma matéria vinte vezes se necessário, dedico-me a todos da mesma maneira e quero que todos eles tenham um futuro melhor.
Falta um dia para acabarem as aulas numa escola de bairro social em pleno subúrbio de Lisboa. Falta um dia para deixar de entrar em salas de aula com turmas cheias de miúdos complicados de gerir e de ensinar. Falta-me um dia para deixar de andar carregado de testes cheios de respostas incorrectas e de trabalhos meio acabados com a pressa de os entregar. E, pela primeira vez na vida vou sentir saudades disto.