domingo, 16 de maio de 2010

IRS, subsídios e gajas nuas

Ora, no meio do caos de trabalho que se gerou na minha vida, entre provas de aferição, corrigir as provas de aferição, horas extras, formação nocturna, testes e reuniões, chegam-me algumas notícias que me deixam assim a dar para o perplexo.
A primeira dessas notícias é, sem dúvida, aquela em que me vão ao bolso por causa dos erros de sucessivos governos. Aumentar os impostos, retirar parcelas aos subsídios ou, em segunda análise, fasear o pagamento dos mesmos, são medidas de um governo que não vê o mais óbvio: este dinheiro seria gasto no levantamento da economia portuguesa. O subsídio de férias e de Natal servem para ser gastos. É o dinheiro extra que o pessoal usa para pôr o carro na oficina ou para comprar aquele artigo que normalmente não teria dinheiro para comprar. Claro que também serve para férias e presentes. Não sou parvo ao ponto de acreditar que todos o usem de forma correcta. Contudo, não sou como aquele senhor que diz que os portugueses se tornaram uns consumistas de primeira e que vivem acima das possibilidades, sendo que estes cortes vão servir para se moderarem nas compras. Indiferentemente, este dinheiro é fruto do nosso trabalho. Se eu quiser gastar todo o subsídio em putas e vinho verde, a decisão é minha.
Curiosamente, fala-se em retirar dinheiro aos contribuintes mas não se fala em acabar com obras públicas condenadas ao fracasso. O novo aeroporto e o TGV continuam nos planos do Governo. Mais um exemplo de belíssima administração pública.
Outra das notícias que me arrepiou a espinha foi o caso da professora das AEC que se despiu para a Playboy e foi suspensa do cargo. Epá, que afinal somos todos muito liberais! "O facto de ela professora não tem nada a ver com o caso." "Ela é mulher primeiro e professora depois." "Cada um é livre de fazer o que quer.". Ora, alguém não entra numa escola há muito tempo.
Convenhamos que o facto dos alunos da escola andarem com fotas da professora mamalhuda nua no telemóvel é perfeitamente normal.

-Vais ter aulas com quem?

-Com esta aqui...isto é que é uma professora...nem ligo ao que ela diz, penso só nestas fotos e divirto-me depois na casa de banho...

A sério, que raio de merda de ideia foi esta? Um professor tem de ser um modelo exemplar para os alunos. Por muito retrógrada que seja esta ideia, é algo a ser seguido. Se numa escola cada professor fizer o que quer, os miúdos vão pensar que podem fazer o que querem. E todos nós sabemos qual a situação nas escolas de hoje. Eles já fazem o que querem de qualquer maneira.
Aposto que se a professora em causa desse aulas num secundário não tinha pousado nua. Como dá aulas a meninos da primária, só vai ter de aturar todos os pais dos meninos a babarem-se para o seu decote enquanto não ouvem as recomendações que ela dá.
Chamem-me o que quiserem. Mas antes de ser mulher ela é professora. E uma professora tem de pensar em cada acção pública que irá tomar.
Acabo este post com uma mensagem para todos aqueles que me virão aqui insultar. Há uns anos um professor disse uma piada sobre o Sócrates em privado e foi suspenso. Esta despiu-se para o mundo e foi suspensa. Qual das suspensões será a pior?


P.S. - E se têm ainda alguma dúvida das consequências da acção desta professora, passem por aqui. Leiam os comentários deixados e pensem um bocadinho.

4 comentários:

Paula disse...

Ora, finalmente alguém que pensa o mesmo que eu! Mas eu não penso que antes de ser mulher, ela é professora! Penso que em primeiro lugar é uma mulher que decidiu ser professora! Que não tem de ser a Virgem Maria (graças a quem quiserem) mas que, na frente dos aluno tem de fazer-se respeitar! E até me podem dizer que a revista não pode ser vendida a menores, mas eu não a compro e vi a notícia num jornal...

Um exemplo bem parvo, em primeiro lugar, eu sou uma mulher, que sai, que gosta de estar com os amigos, que diz e faz parvoíces na sua companhia, mas, se vou a um bar onde estão alunos, por exemplo, só bebo suminhos...

Vasco Trindade disse...

Caro Vitor, já acompanho o teu blog há bastante tempo e geralmente concordo com as tuas opiniões. Porém, nesta situação em concreto sou forçado a discordar. Terá de ser estipulado um código de conduta para a vida privada dos professores? Se uma professora fizer topless numa praia e for fotografada, deverá ser sujeita a um processo disciplinar? Ou deverá antes assegurar-se de que não está nenhum aluno dela na mesma praia antes de o fazer? Seguindo o exemplo do comentário anterior, devo estar sempre a olhar para a porta do bar onde me encontro para, quando entrar um aluno meu, esconder a cerveja e pedir uma água? Compreendo que um professor deva estar consciente do seu papel e responsabilidade, e deve assumir um comportamento exemplar no espaço do seu trabalho, mas na sua esfera privada não deve sujeitar a sua vida à opinião dos outros. A questão que aqui se deve colocar prende-se com a capacidade e profissionalismo da professora em desempenhar correcta e eficazmente a sua profissão, não a sua actividade enquanto modelo erótica, até porque as imagens que vi não são particularmente ofensivas ou até muito distantes de muita comunicação televisiva de horário nobre da actualidade. No fundo, a liberdade tem destas situações mas prefiro sempre optar por respeitar a liberdade dos meus concidadãos em viverem as suas vidas sem prejuízo dos seus semelhantes.

PS - Sou um velho camarada teu dos tempos de Portalegre, aluno do curso de Design e chamo-me Vasco Trindade. Dou aulas há dois anos em Portimão. Grande abraço.

Poetic GIRL disse...

O problema é também que toda a gente pensa que os professores têm que ser os modelos de perfeição, mas a verdade é que não passa de uma profissão. Todos voçês têm vida, cada um tem os seus gostos e tem as suas doses de loucura. E o que faz fora da escola não lhes deve ser apontado. Não estou a dizer que ache certo o que ela fez, mas quem sou eu para me imiscuir na vida dela? Penso que ela sabia o que estava em jogo quando tomou essa decisão. E realmente é como o vgoya disse os professores não podem viver com "receio" de serem apontados pelos alunos, já que os ditos alunos nem o ambiente nas salas de aula respeitam mais. bjs

Professorinha disse...

Com isto, e em relação ao meu post, um homem, antes de ser homem, é professor, logo não pode ser gay e casar com outro homem...

Contraditório na mesma!

Não quer dizer que não concorde contigo, mas se há mentalidade para umas coisas, haja para outras...

É que começo a ficar cansada das hipocrisias deste país...