Sempre tive um grave problema em me afirmar como
macho. Apesar de ter um metro e quase noventa, barba rija, pouco cabelo e uma
barriga de fazer inveja a muito GNR, nunca consegui passar a imagem de macho.
"E o que interessa isso?" - perguntam
os jovens leitores que ainda não tiveram um contacto com o país que nos rodeia.
Tudo, quando vamos a uma oficina.
Sempre me stressou ir a uma oficina. Eu posso
dizer que prefiro ir arrancar dentes, enquanto me queimam os testículos com
ferros em brasa e me cortam as unhas com um aparador de relva, do que ir a uma
oficina. Aquilo é sítio para tresandar a testosterona e outros fluídos emanados
pelo corpo humano. E eu sou um bocado avesso a esses espaços.
Depois, vem toda uma questão de conversas.
Enquanto esperamos pelo atendimento, fala-se de coisas machas: touradas,
futebol, gajas e diz-se mal dos políticos. Ora, não gosto de touradas e acho
aquilo um espectáculo bárbaro e medieval. Não gosto de futebol, porque acho que
pagar balúrdios a 11 manos que sabem correr atrás de uma bola é um bocado
vá...estúpido. Gajas até gosto, mas sou casado e acho que falar de outras
mulheres é uma certa forma de traição. Dizer mal dos políticos...nessa sou um
perito, mas não consigo abordar a questão, porque há sempre uma conversa de
bola, tourada ou gajas.
Quando finalmente sou atendido, começa a humilhação:
- Então, o que tem o carro?
- É aquela peça ali, que está a fazer um barulhinho e que não me permite
fazer coisas que o carro faz.
- Portanto, o motor...
E nesse momento, junta-se à minha volta um monte de mecânicos que se riem
apontando para mim, o parolo que não sabe o nome das peças do carro. (pelo
menos, isso acontece no meu cérebro, já de si poluído pelos fumos e pela
testosterona)
Hoje perdi 90 minutos da minha vida a identificar a peça do carro que não
funcionava antes de ir à oficina. E descobri que o meu "amortecedor de
tampa" (aquela coisa que faz com que a porta traseira abra e fique aberta
sem nos bater na cabeça) estava avariado. Chego de peito firme à oficina,
sobrevivo à conversa da bola (por sorte ouvi na rádio que Portugal ganhou e deu
para meter o comentário: "Então, e Portugal, hã?"), dirijo-me
estoicamente ao mecânico e digo, que nem o macho que sou:
- Preciso que me troque os amortecedores de tampa! - enquanto bato com a mão
de forma macha no balcão e espero a ovação de pé dos mecânicos.
- E qual é o carro? - diz o mecânico, indiferente ao meu odor de macho.
- Um Corsa. - MACHO!
- De que tipo?
- FDX...