segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Restos de sabonete

Por muito que uma pessoa queira ser optimista, este país é a maior depressão da história. Não basta já estar desempregado, com cada vez menos cabelo e mais barriga, ainda tenho que gramar com todos os arautos da desgraça que pululam pelas notícias.
Eu sei, tal como o blog diz, se não gosto é mudar de canal. Mas isso é complicado quando estou em casa dos meus sogros, onde ver o noticiário ainda é uma tradição antiga. Infelizmente, como todos sabemos, é também a forma mais rápida de nos levar ao suicídio.
Os analistas políticos são um aborrecimento. Tudo está mal e irá ficar pior. Sem dúvida que iremos todos morrer antes da próxima previsão do fim do mundo se continuarmos assim. Já a oposição acha que devemos mudar de rumo (qual, pergunto eu) para que isto vá ao sítio. A mesma oposiçao que nem entre si se entende quer levar isto a um novo rumo? Certo.
O governo, como é claro, acha que isto se resolve já para o ano com uma sandes de courato e uma mini. Ou coisa que o valha. Claro que no meio disto tudo, os seus membros vão aproveitando para perceber o real trambolho que o país mandou e a preparar a sua inscrição para um curso em Paris.
Mas é o povo, meu Deus, é o povo que me irrita solenemente. Porque eu posso desligar as notícias, mas não posso desligar o tipo que está atrás de mim nas filas do IEFP ou até das compras que estou a fazer. Resmungam, criticam e dizem que fazem e acontecem. Que se isto não muda, vão para aqui e para ali, ou, a minha favorita, "Se encontrasse esse cabrão, dava-lhe um tiro nos cornos". Pois bem, meus senhores irados, o parlamento é já ali. Façam favor.
Ah, e já agora, comprem-me gel de banho no caminho, que já estou a usar restos de sabonete para lavar as partes baixas. Desempregado, mas limpinho.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O povo é quem mais ordena?

O povo é quem mais ordena. Sempre que ouvia esta frase pensava em grandes feitos, no 25 de Abril e em todos aqueles que se manifestavam e perderam a vida para que tudo neste país fosse feito de liberdade. O grande problema é que, como todos já percebemos, isto foi a maior mentira que algum dia nos contaram. O povo não manda em coisa nenhuma. É apenas a força laboral e monetária que mantém o país enquanto país...mandar é coisa que não faz.
Quando o PS esteve à frente disto, todos nos martirizámos porque eles fizeram merda. Agora, com o PSD, continuamos na mesma ou pior. Qual foi o "mandamento" do povo? "Mudar de partido a ver se isto melhora". Claramente, foi um mandamento errado. "Não voltarás a cometer os mesmos erros do passado." parecia-me uma melhor escolha. PS->PSD->PS->PSD e assim sucessivamente. Uns pós de CDS lá pelo meio para parecer que existe alguma mudança. Que não existe. Também não será um PCP ou um BE que nos irão salvar. O povo, esse que mais ordena sem nada mandar, terá de se convencer que assim não vamos lá.
Uma coisa é certa. Estas políticas de cortes, austeridades e outras servem apenas para agradar a FMI's e gordas alemãs. O povo nada pode fazer e nada ganha com isso. Aliás, só perde. Perde dignidade, perde justiça, perde emprego, perde dinheiro, perde o direito que foi lutado e adquirido por uma geração que só queria liberdade.
O meu medo é que o povo de Portugal volte em magotes para a rua. Não para pedir liberdade, mas para pedir esmola.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O desemprego

Ora, estar desempregado é algo que é chato. Pelo menos para mim, que não fui educado para ser um parasita da sociedade, tipo político. Mais chato ainda é a forma com que este país lida com os desempregados.
As situações pelas quais passei desde que assumi esta faceta da minha vida davam para escrever um livro. Do tamanho da Bíblia. Em vários volumes.
As filas, meu Deus, as filas. É desumano a quantidade de filas pelas quais passei (e ainda passo) sempre que preciso de resolver alguma coisa no IEFP ou na Seg. Social. Como mudei de residência, já passei por dois centros do dito órgão e as filas estão sempre lá. Sempre. Ao ponto de já ter adoptado o sistema do velhinho no centro de saúde e ir para lá uma hora ou mais antes daquilo abrir. Assim, em vez de ter 200 pessoas à minha frente, tenho só 100.
E as brilhantes conversas que se ouvem enquanto se perdem horas para ser atendido? Um clássico. Desde o velhinho "...no estrangeiro não é nada assim, porque tenho um primo ná França..." ao típico "´...isto é tudo uma cambada de gatunos, chupistas,...", tudo se ouve durante esta tortura.
Mas nem é este o meu aspecto favorito da coisa. O melhor são as apresentações quinzenais. Os desempregados têm de passar por um processo que nem os prisioneiros em condicional passam em Portugal. Apresentarem-se a cada quinze dias numa junta de freguesia ou coisa que o valha. Para quê? Ninguém sabe ao certo. Claro que estamos a falar de mais filas para nos entretermos com as conversas alheias.
Também já passei pelas sessões de esclarecimento. Várias. Que me esclareceram de uma coisa óbvia. O IEFP não está preparado para licenciados desempregados. Pior, não está preparado para professores desempregados. À pergunta "Essa medida aplica-se a licenciados?", invariavelmente ouvi a resposta "Não.". Mais tempo perdido, mais umas conversas da treta acumuladas.
No meio disto tudo, pergunto-me: "Mas o IEFP não serve para arranjar emprego aos desempregados?". Não. Perdi horas em filas para tratar de papéis, perdi horas em sessões de esclarecimento, apresento-me a cada quinze dias para justificar um subsídio que demorou três meses a ser aprovado, mas ainda não recebi uma única proposta de emprego desde que me inscrevi. Nada.
O que torna tudo isto simples de perceber. Se eu não mexer o meu bonito rabo para me safar, não serão estes senhores a fazê-lo por mim. A não ser que envolva filas...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

2012-2013

Mais uma vez, este amigo ficou ao abandono. A vida pregou-me umas rasteiras valentes no final de 2012, o que fez com que não tivesse paciência para escrever fosse o que fosse aqui.
Hoje, ao ler um post absolutamente extraordinário da Quadripolaridades, apercebi-me que o Blogger, o meu psicólogo gratuito, está ainda aqui para me permitir desabafar com o mundo.
O ponto mais baixo de 2012 foi o desemprego (que ainda se mantém). Não contava ser posto de parte da maneira que fui. Não esperava um ano sem dar aulas, uma vida sem ter nada que fazer. Pela primeira vez em 35 anos, estou parado em casa.
No início, passei pela questão da "depressão" e da melancolia. Coitado do Vitinho, que é tão bom e bonitinho. Depois espetei um estalo a mim próprio e reagi. Não é o fim do mundo. Por enquanto...
Tive muitas coisas boas. Mudei de casa. Deixei o meu apartamento citadino, rodeado de cimento, betão e assaltos, para um apartamento campestre, rodeado de sol, verde e silêncio (tirando o raio dos cães da vizinhança que não se calam). Descobri novos interesses (nada sexual) com os quais ocupo os meus dias de desempregado. Também descobri um sistema absolutamente absurdo com que o IEFP gere os desempregados, mas isso ficará para outros posts. Mais importante, continuo casado com a mulher mais linda, compreensiva, apoiante (?), inteligente e talentosa que o mundo já conheceu. Tem sido nela que me apoio todos os dias para não deixar que a loucura do excesso de tempo livre me afecte.
Hoje, 4 de Janeiro, faço anos. Sinto-me como seria de esperar que uma pessoa com 35 anos desempregada se sente neste momento: um futuro incerto pela frente. No entanto, sinto-me confiante. Não sei porquê. Honestamente, não tenho razões nenhumas para tal. Acredito que o futuro seja melhor, que finalmente se abra a porta que mude de vez a minha vida. Não sei. Mas acredito.